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Foto do escritorRaul Manarte

Fechou uma década horrível para as crianças. E tu - o que podes fazer?

Já sabes: tento mostrar algum do horror que se passa no Mundo, mas também tento mostrar como podes ajudar.


Fechamos uma década com 170 mil ofensas graves a crianças. Ofensa grave é matar ou desfigurar, raptar, violar, recrutar como criança-soldado, atacar hospital ou escola, ou negar ajuda humanitária. São 45 ofensas por dia. Um aumento de quase 3 vezes desde 2010.


Síria, Afeganistão, Yemen - locais onde talvez já tenhas alguma ideia do que se passa. Mas a lista não pára aí... Na Nigéria crianças são usadas como homens bomba, no Sudão do Sul pagam com a vida pelo conflito, na Guiné são sujeitas a mutilação genital feminina ou demasiado pobres para chegarem ao Hospital a tempo, aqui na Europa há muitas que querem matar-se no campo de refugiados de Mória e há centenas debaixo do Mediterrâneo - afogadas a tentar chegar até nós porque a Europa diminuiu as operações de busca e salvamento na água.


Eu sei que se calhar nunca viste uma criança morrer. Nunca viste um corpo pequeno “esvaziar-se”... não ouviste a mãe. Se calhar já viste. Se calhar és mãe. Se calhar nunca estiveste como uma criança que foi violada. Ou se calhar já. Mas sejas tu quem fores, estejas onde estiveres, se tu “visses” tenho a certeza que sentias. Não é só o choque da morte que te atropela (às vezes só te apanha mais à frente). É também a revolta e o desespero que vêm com o que tu sabes: tu sabes que era evitável, sabes que foi uma morte violenta, sabes que alguém com 8 anos não alimentou esta guerra, sabes que devia haver antibióticos, sabes que um bébé não pode morrer desidratado, sabes que um hospital não é bombardeado, sabes que uma criança nunca pode matar outra, sabes que uma criança não se suicida.


E então o que podes tu fazer?


Vais achar algumas destas sugestões fúteis, óbvias ou impossíveis mas aqui vai:


1. Mantém-te informado. Parece simples mas... vais ter de saber driblar as “fake news” e procurar tópicos que os telejornais muitas vezes não mostram. Quando “sabes” o que está a acontecer isso “transparece” nas conversas que tens com familiares, no café, na pausa do trabalho. E muitos estudiosos, activistas e até políticos arrependidos vão-te dizer como tu nunca podes prever as consequências positivas que uma acção positiva tua pode ter. Se calhar vais falar com a pessoa “certa” e uma cadeia positiva de acontecimentos começa - e as coisas mudam. Eu só fui para o terreno porque alguém “falou” comigo. Aqui ficam algumas fontes: http://missingmigrants.iom.int/region/mediterranean https://www.thenewhumanitarian.org/ www.reliefweb.int www.humanitariannews.org


2. Dar dinheiro a quem intervém no terreno. Pensas logo nas “Raríssimas”? Então mexe-te: fala com quem já trabalhou no terreno, com quem trabalha com estas organizações. Vê os mecanismos de transparência que têm e toma uma decisão. Há organizações e pessoas corruptas? Claro. Mas também há aquelas que tem mecanismos e provas dadas que te darão as certezas possíveis que os teus euros terão impacto (certeza a 100%? Eu acho que nunca terás – vai ser esse o obstáculo? Depois podemos falar dos limites do humanitarismo: como paternalismo, substituição de medidas locais etc). Aqui ficam as organizações com as quais contactei que, por um motivo ou outro, me sinto à vontade em recomendar (mas se tens informação contrária diz):


3. Activismo online. Assinar petições ou cartas online é algo que não te custa e com efeitos reais já demonstrados: AVAAZ Amnistia Internacional


4. Activismo. Quando os canais oficiais não dão resposta e os meios convencionais não têm resultados as pessoas juntam-se e mudam as coisas. Pressionam governos, ministros, bancos, decisores, empresas, etc Duvidas da eficácia destes meios ou nem sabes como começar? Ficam aqui uma base de dados online com 10.000 campanhas (métodos, objectivos, taxa de sucesso) e uma espécie de manual de activismo eficaz. Aqui ficam duas sugestões onde podes “dar à perna” em Portugal: Humans Before Borders Amnistia Internacional


Aqui fica, por exemplo, um excerto de uma opinião do que Portugal pode fazer pela Síria. Mas teremos de pressionar:


“Da mesma forma, como membro da União Europeia, Portugal pode fazer campanha para que sanções mais duras sejam aplicadas à Rússia e ao Irão de modo a impedir o seu apoio político e militar a Assad. Poderia também referenciar a Síria para o Tribunal Internacional de Justiça ou pressionar os seus aliados da NATO para considerarem estabelecer uma zona de exclusão aérea em que os civis sírios possam encontrar um refúgio seguro contra o implacável bombardeamento aéreo. Tais medidas poderiam, pelo menos, pressionar Assad a comprometer-se com o cessar-fogo da ONU, abrir corredores humanitários e levar a sério as negociações.”



É possível. É possível mesmo com o teu horário, as tuas preocupações e a tua falta de tempo. Tu tens mais poder do que imaginas e consegues ter um impacto nos sítios mais distantes e escuros. Algumas dessas sugestões demoram 20 segundos - imagina o que farias com 30 minutos por semana...

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